"...o pensamento chinês não procede tanto de maneira linear ou dialética e sim em espiral. Ele delimita seu objetivo não de uma vez por todas mediante um conjunto de definições, mas descrevendo ao redor dele círculos cada vez mais estreitos. Isso não é sinal de um pensamento indeciso ou impreciso, mas antes de uma vontade de aprofundar um sentido mais que de esclarecer um conceito ou pensamento. Aprofundar significa deixar descer cada vez mais fundo dentro de si, em sua existência, o sentido de uma lição (tirada da frequentação assídua dos Clássicos), de um ensinamento (prodigalizado por um mestre), de uma experiência (vivência pessoal). É assim que são utilizados os textos da educação chinesa: objetos de uma prática mais que de uma simples leitura, são primeiramente memorizados, depois aprofundados continuamente pela consulta e companhia dos comentários, pela discussão, pela reflexão, pela meditação. Testemunhos da palavra viva dos mestres, eles não se destinam apenas ao intelecto, mas à pessoa toda; servem menos para raciocinar do que para ser frequentados, praticados e, finalmente, vividos. Pois a finalidade última visada não é a gratificação intelectual do prazer das idéias, da aventura do pensamento, mas a tensão constante de uma busca da santidade. Não o raciocinar sempre melhor, mas o viver sempre melhor sua natureza de ser humano em harmonia com o mundo".
"É inscrever-se no real em vez de sobrepor-se a ele [...]. Em vez de elaborar objetos num distanciamento crítico, tende pelo contrário a permanecer imersa no real para melhor sentir-lhe e preservar-lhe a harmonia".
Anne Cheng
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