Viva
a 20 de novembro, momento para se lembrar.
(Mestre
Moraes)
Faço minhas as palavras
do Mestre Moraes, como um pedido de licença para começar a falar não apenas
sobre essa data, não apenas do símbolo que representa essa data, mas também do
fato, da realidade que insiste em se esconder através dos discursos da mídia,
ou dos diversos racismos incrustados nas mentes, nos olhos, nas falas, na
cultura. Mentiras elaboradas ao longo de séculos, reelaboradas no cotidiano e
vivenciadas em cada segundo. Mitos revividos sob a égide da democracia racial,
em um país onde ainda relegam à MAIORIA da população (composta por
afrobrasileiros, conscientes ou não, visto que a questão da aceitação étnica
passa pela formação político-identitária) os mais BAIXOS padrões de qualidade
de vida, que se estendem por todos os aspectos do “(SOBRE)viver em sociedade”.
Consciência Negra, não
apenas uma data, menos ainda “comemorativa”, não um dia ou um momento, outrossim
a busca pelo desenvolvimento da consciência no processo que poucos se atentam:
o viver. Diferentemente da tradição cartesiana que varreu a Europa, havia
muitas outras que se opunham a esse racionalismo quase que inato à própria
natureza (natureza não! “Objeto”, segundo o embrionário modo de enxergar “moderno”).
Umas dessas muitas tradições diferentes foram rasgadas, espetadas,
acorrentadas, e arrastadas sangrando (mar de sangue, Oceano Atlântico e tantos
outros que carregaram os “tumbeiros”), ainda dilaceradas, retiradas de seu
ventre, seu cordão umbilical, sua Mãe, para onde hoje reina o mais lindo
(falso) arco-íris racial sobre o céu que se quis Brasil.
Mais do que uma
remontagem histórica, ou exposição dicotômica (“maioria”/ “baixos”; “tradição”/
“moderno”) um grito real pelo direito de viver segundo essa(s) outra(s)
tradição(ões); VIVER! Tradição(ões) que não vê na natureza um objeto, nem
tampouco a grafaria um dia com uma letra minúscula (mini, algo pequeno, algo comum), Tradição(ões) que vive “COM” e não
“NA”, sem posse, sem impor; quem vive COM, é igual a Tudo e a Todos, e por isso
Respeita a Tudo e a Todos. Respeito que não é concedido, nem materialmente, nem
filosoficamente, nem culturalmente, a Todos os Afrodescendentes no Brasil.
Assim como o Baobá
finca suas raízes no Solo, e estende seus Galhos para o Céu, Nossos Pés
firmam-se na Terra, e nossas Cabeças alongam-se para o alto, afim de levar essa
Consciência que deve ser vivida todos os dias, assim como o desenvolvimento de
uma planta, ou o próprio ato de respirar. O céu se estende acima da cabeça de
todos, todos pisam o solo, todos respiram, essa consciência merece ser expandida
em conjunto com a luta física, política, econômica, filosófica, cultural, que
se arrastou (e se arrasta) ao longo de muitos séculos. Luta pelo modo de
enxergar a vida de maneira mais igualitária, mais integrada, mais VIVA, mais
REAL.
LUTA PELA VIDA E PELA
REALIDADE. Se o estalar do chicote do feitor AINDA nos faz viver segundo os
padrões de vida impostos para nós, é porque AINDA há muito o que mudar, há
muito o que desnudar, mostrar, desconstruir. É contra o silêncio ensurdecedor
da democracia racial e o racismo “colorido” que se entranhou em nosso tom de
pele, em nossos ossos, no nosso sangue, nas ranhuras de nosso cérebro, no jeito
de andar, de vestir-se e de enxergar a vida, fechando um ciclo vicioso, que
lutamos e resistimos.
Marco Aurélio Acioli Dantas
(Moderador do BLOG)