A última coisa que queremos é limitar o blog para apenas a Filosofia do Dao (Tao) e experiências marciais, o que queremos de fato é mostrar como o ideal de harmonização e união das pessoas estão presentes em todas as sociedades, e é uma de nossas maiores virtudes (a qual infelizmente estamos perdendo).
Portanto nos ajude, toda vivência coletiva é uma representação fidedigna do Universo.
Em alguns textos do Blog foi preferível adotar os termos em chinês através do sistema ortográfico Pin Yin.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

SOBRE O ASPECTO MARCIAL DO TAIJI QUAN

Pessoal, segue abaixo um artigo escrito por Pedro Souto, Professor da Associação Pernambucana de Práticas Corporais Chinesas da unidade de Boa Viagem, onde o mesmo discute sobre o Taiji Quan e seu caráter marcial. Leiam com carinho e atenção.

Lembrando que esse é um dos frutos do grupo de estudos que está ocorrendo lá na unidade de Boa Viagem, participem.




“Aquele Taiji é mais marcial” – a questão dos objetivos da prática do Taijiquan 

por Pedro Souto 


Não existe “estilo de Taijiquan mais marcial”.
Não existe “forma” mais marcial ou menos marcial.

Todos os estilos de Taijiquan são, originalmente, marciais. Todas as formas de Taijiquan são marciais. Todos os movimentos contidos nas formas, inclusive os mais bonitinhos, representam técnicas de luta. Só que algumas pessoas não conhecem o significado dos padrões, e por isso só enxergam técnicas marciais naquelas partes mais óbvias, como os chutes, socos e movimentos explosivos. 

Os movimentos lentos também são golpes, assim como os rápidos. A lentidão tem um motivo. O Taijiquan exige uma mecânica peculiar e princípios que devem ser utilizados em qualquer movimentação. Desenvolver essa estrutura não é fácil, e por isso o treinamento é feito lentamente: para que possamos trabalhar o relaxamento do corpo, a calma mental, o enraizamento, o “fajing”, as “Seis Harmonias” (joelhos-cotovelos, ombros-quadris, mãos-pés), a posição correta dos pés, etc. Obviamente, tudo isso deverá ser aplicado em velocidade também, e no treinamento tradicional temos níveis crescentes de desenvoltura nas aplicações marciais, que podem ser feitas mais rapidamente à medida que o praticante evolui. 

O problema é que a maioria das pessoas treina o Taiji como prática corporal chinesa para a saúde e bem-estar. Assim, você pode encontrar o termo “Taiji terapêutico”. Pessoalmente eu não aprecio esse termo, por dar a impressão de que o Taiji é voltado para indivíduos doentes. Na realidade o Taiji traz benefícios para qualquer pessoa, tenha ela alguma doença ou não. Por isso, utilizarei aqui o termo “Taiji para saúde”. 

No nosso grupo, a Associação Pernambucana de Práticas Corporais Chinesas, nosso objetivo não é marcial. Não fazemos apenas Taiji. Fazemos Lian Gong, Tai Ji Qi Gong, Xiang Gong, Percussões, automassagens, respirações, exercícios meditativos, entre outros. Somos um grupo de Práticas Corporais Chinesas. 

Para treinar o Taiji marcialmente, não basta apenas conhecer na teoria as aplicações marciais dos movimentos. É preciso treinar seu uso, e desenvolver as qualidades necessárias para que se possa aplicá-las com eficácia. Isso inclui fazer mais do que somente formas. As formas são apenas uma parte do treinamento do Taijiquan. 

Portanto, não é porque você pratica uma forma Chen que seu Taiji será mais marcial. Não é porque você treina Forma Longa que é mais marcial. Não é procurando o estilo X ou a forma Y que seu Taiji ficará mais marcial. E sim, procurando outro tipo de treinamento. 

O estilo Chen é conhecido por ter conservado a tradicional visão marcial do Taijiquan. Foi a partir do estilo Yang, especialmente com o mestre Yang Cheng Fu, que se começou a difundir o Taiji como prática para a saúde. Os antigos mestres do estilo Yang eram conhecidos lutadores,
e venceram muitos combates com artistas marciais. Não é que o estilo Chen seja necessariamente mais marcial que o Yang. Existem escolas de estilo Yang que preservam a marcialidade, assim como no estilo Chen. 

O estilo Chen apenas parece (digo “parece” porque não tenho conhecimento para afirmar com certeza) dar mais ênfase a golpes explosivos que o estilo Yang. A maioria das técnicas de Taijiquan é feita em contato corpo-a-corpo, com projeções, torções, quebramentos, empurrões. O Taijiquan, como arte marcial, privilegia a luta “agarrada”, ao invés da “trocação” de chutes e socos É por isso que nos exercícios de tuishou os praticantes estão sempre em contato. Mas também há golpes contusivos, como chutes, socos e cotoveladas. 

Taijiquan tradicional é marcial (“quan” significa literalmente punho, indicando arte marcial). Para os mais puristas, dizer algo como “Taijiquan marcial” soa tão ridículo quanto dizer “Karatê marcial” ou “Jiu Jistu marcial” ou “Samba dançante”. No entanto, é impossível ignorar que muita gente pratica, sim, um Taiji sem marcialidade. Esse “Taiji para saúde” acaba parecendo outra modalidade, e costuma vir junto com outras práticas como Lian Gong, Ba Duan Jin, etc. 

Mas, por favor, não entenda que o Taijiquan marcial não faz bem à saúde - muito pelo contrário. O Taijiquan tradicional, como arte marcial completa, ainda segue os princípios de harmonia do corpo e desenvolvimento da energia, portanto é benéfico para a saúde. Todo Taiji, tenha marcialidade ou não, é saudável e promove a saúde, e pode trazer a cura de doenças. A diferença é que o "Taiji para saúde" é só um aspecto mais restrito dessa arte marcial chamada Taijiquan. 

E assim, segue a confusão... Para resolvê-la, eu prefiro especificar que pratico algumas formas de Taiji. 

Resumindo o que quero dizer (o que quero que o leitor entenda): Taijiquan é uma arte marcial, mas costuma ser praticado sem sua marcialidade original, como ferramenta para a saúde.

GRUPO DE ESTUDOS






Os participantes da Associação Pernambucana de Práticas Corporais Chinesas, desde agosto do corrente ano, organizaram um grupo de estudos que estão se reunindo periodicamente aos finais de semana em Boa Viagem, após os treinos. Mas estão em conjunto com essa ação, enviando e-mails com os temas debatidos. Aos que se interessarem contribuam com seus conhecimentos, vivências, dificuldades, dúvidas, etc. 

Para estabelecermos o equilíbrio mental, precisamos primeiro descontruir algumas barreiras, portanto a contribuição de todos vocês é muito importante para manter esse processo contínuo de desconstrução/ construção.